7/30/2009

Um sonho de Verão.

Final de tarde, é verão, calor, muito calor.

Terminou mais uma jornada de trabalho, chego a casa, lancho e tomo banho. O meu equipamento de pesca está preparado desde véspera, aguarda por mim, anseia pelas minhas mãos, desespera por ver margens.

Cada vez que saio de casa parto na procura de um sonho.

Devagar, de forma firme e convicta chego ao destino. É verão, são 19h, superfície ou fundo, texas ou topwater, ou, talvez meia água??. Que se dane, o sol já está baixo, bogas aos saltos alimentando-se de insectos, essa brisa, demasiado evidente!

Lançamentos, lançamentos do perdimento, ágeis e precisos, porém improdutivos. Ando, silencioso, sigiloso, nem uma pedra ousa desprender-se, nem a minha sombra atreve-se a exceder-me. Observo, analiso, cada lançamento não é só lançar para a frente. Parede de pedra, estrutura perene, uma sombra lá em baixo atiça o meu pensamento, junto, há vida escondida. Demasiado perto, demasiado estático, um jig, porque não! Pitching lá para dentro, o jig beija a água. O peixe não faz menos, admirável, desaparece atrás daquele viajante do entardecer. A linha tensa-se, a linha mexe, o pescador reage, lá em baixo um reflexo prateado é inalado pelo meu espírito. Mas, de repente, nada, nada do outro lado, o peixe sacudiu até libertar-se, desapareceu. Ainda bem para ele. Nem uma palavra sai da minha boca, nem um mau gesto, apenas um amargo percorre o meu âmago. Mas, poder ter visto e sentido o peixe já é prémio. Não mais o jig volta a tocar a água, guardo-o no meu bolso, volto para a superfície.

Prossigo, andar é liberdade, respirar aquele ar é sentir felicidade. Lançamento, lançamentos, tão belos como inconsequentes. Já é tarde, volto sobre os meus passos. A cada metro percorrido mais cavalga a minha alma, e, se o peixe lá voltou! Muito devagar faço a minha aproximação, exemplar, se alguém lá estivesse estado nem se teria apercebido do meu marchar.

Era uma sombra, era uma sombra viva, parada, sobreposta pela, já, ténue sombra de um tronco. Tinha voltado! Seria eu merecedor de nova oportunidade? Abro a minha bolsa, algo no fundo já o peixe tinha visto, talvez algo parado a meia água fosse melhor entendido. Ajoelho-me, monto um super-heavy drop-shot. Mais um pitching, a entrada já não é tão elegante, desaprovação no meu gesto. O peixe, nem se mostra desapontado, novamente investe na procura daquela criatura do crepúsculo. Desta vez a linha perde tensão! Basta com levantar a cana para sentir nova satisfação. Salto de pedra em pedra para me aproximar da água, tiro-o depressa. Nunca canso um peixe. Se não o tirei logo não foi porque não tentei ou não queria, o peixe é que resistia.


Algo lutou pela sua vida, eu lutei por um sonho, como equiparar. Ter tocado no peixe, duas fotografias para saber que não era só um fantasia, é o maior prémio, e, o peixe retoma a sua ansiada liberdade. Afasta-se, afunda no abismo e ausenta-se do meu olhar.

Quanto pesa? Pouco interessa, que cada um lhe dê o peso que se presta. De qualquer dos modos, como se pesa um sonho? Seria quebrar o feitiço.


Phil.

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